Cagalhão das Trevas ou um post sobre parabenizações

Esqueço-me sempre dos aniversários. É uma coisa minha, pensar que estes dias são iguais aos outros. Esqueço os aniversários do pai, da mãe e desta vez até do blogue. Não lhe chamaria esquecer, uma vez que em três anos os sempre ignorei. Porque o blogue estava vivo, porque se mexia, não me lembrei de me lembrar o motivo pelo qual o estava. E é por isso que descobri que os aniversários são importantes: para festejar que uma coisa nasceu e que o mundo não seria o mesmo se tal não tivesse acontecido.

Pénis, querido blogue, eu te parabenizo.

Recordo ainda a génese de tudo isto. Eu era apenas mais um entre tantos desempregados sem rumo, mergulhado no caos da fuga ao cocó de cão nos passeios entre idas insuspeitas ao centro de emprego. A depressão ali tão perto, e a minha vontade de deprimir ainda tão longe. Imersão na leitura de pessoas com piada levou-me a pensei para com os meus botões (isto na minha fase esquizofrénica) que se calhar giro era abrir um blogue.

Em três anos, houve muita coisa que mudou em mim e à minha volta. E este blogue é disso testemunho. O último ano revelou-se o coração das trevas da sua por agora ainda breve existência. Sem tempo (abandonei temporariamente o clube dos desempregados) vi-me tomado pelo cansaço e pela confusão de ser eu mesmo, embriagado por outras coisas e deixei o menino na solidão, à sua sorte. Talvez um dia ele me perdoe a ausência. Porque ele sabe que é única coisa que ainda me liga umbilicalmente a coisas outras que também amo, verdadeiramente.

Também para os leitores, os que já por aqui passaram, os que já partiram e os que agora chegam, um agradecimento. Ter importância - ainda que pequena - na vida de alguém é uma honra. Este Pénis, ainda que não me tenha salvo a vida, voltou-me a dar esperança.

Um dia aborreci-me e fechei a caixa de comentários. Talvez porque ninguém comentava nada na altura, talvez pela presunção de que um blogue sem caixa de comentários dá aquela imagem de que lá passa muita gente mas ninguém comenta porque o autor não quer. Parvoíces.
Isto é e sempre foi uma coisa de mim para os outros, para os amigos, para os conhecidos e para os desconhecidos. Como vive um blogue se não for lido?
A sua vida é curta e a sua importância limitada.

Por isso dou por hoje ressurecto este blogue. Mau como sou a cumprir promessas, espero que esta se cumpra. e hoje no dia em que o morto se levanta e anda, abro a caixa de comentários. Por isso se me acharem merecedor das vossas palavras (nem que essas sejam "merda", "piça" ou "morde aqui ó boi"), aqui fico à espera.

Mais posts se seguirão.