Friday 29 October 2010

Pérolas Kitsch #1



Como diz o outro, de meter medo ao susto.

Friday 22 October 2010

Melomanias #39

Wednesday 20 October 2010

Regresso ao Passado
























De cabeça baixa mas de olhos apontados às estrelas, avistando o céu num olhar sonhador, assim mantinha ele essa esperança cinzenta, mergulhada num baço nevoeiro ilusório. Quantos planetas, estrelas, constelações... que vida haveria neles? Era desta forma que Martim McMosca se perdia na imensidão desse uísque rasca que comprara no Minipreço. Bebia-o em pequenos goles, lentos, sentindo-lhe esse gosto amargo - o travo da solidão que conhecia bem.

Com o peito carregado de desilusões e remorsos, nada mais restava a Martim McMosca senão escrever. Registar, documentar, como forma de exorcismo dos seus erros irreparáveis, resultantes dessa fantasia escapista chamada DeLorean. Que mais eram aquelas viagens ao futuro, questiona-se hoje Martim, senão uma tentativa de escapar ao passado? De ignorar o presente?

Viajando pelo tempo, numa invenção do Doutor Américo ou na sua imaginação, Martim perdeu a vontade, o livre-arbítrio, e passou a viver num futuro e não no presente. E o futuro que um dia viu, nunca chegou a sê-lo. Por isso senta-se agora entre dias banais na esplanada do café "O Borra-Botas", observando a rotina daqueles que vivem do presente. Como ele gostaria de ter feito o mesmo, mas deixou escapar o futuro entre os dedos. Resta-lhe pois o pó dos livros, o testemunho inútil e desiludido nos seus poemas, que escreve para esquecer a monotonia do seu coração adormecido entre tempos. Um testemunho do que não foi e poderia ter sido. Saudade, na sua mais corrosiva forma.

Chegou a primavera e ouve-se na rua o chilrear dos pássaros. Esses mesmos pássaros que seguem também largando poias na calçada, carros e volta e meia na cabeça dos transeuntes. Martim observa da janela do seu bafiento quarto a beleza do mundo exterior, e decide-se em sair à rua. Caminha pelas ruas estreitas da cidade ao acaso, deslocado, como o homem na multidão de Poe. Ao seu largo vê passar um mundo que não lhe pertence, que não conhece, que não é seu. A sua condição solitária, reforçada pela sua falta de higiene, isolam-no do resto do mundo, e se não isolam é bom que o façam, já que às vezes tresanda mesmo dos pés.

Mas é com aquele cabelo desgrenhado, as botas encardidas e as unhas no tom castanho de quem andou a coçar o cu que, numa esquina, avista um anjo. Ou pelo menos assim lhe terá parecido.
'Jennifer,' disse Martim McMosca. 'Então, estás gorda?'
Jennifer não lhe respondeu, sorrindo apenas. A cara de Martim avermelhou.
'Desculpa, sabes que não sou bom nas palavras. As coisas só me saem bem nos poemas.'
'Não faz mal', disse-lhe Jennifer.
'Queres ir tomar um café?'
'Pode ser,' disse Jennifer.
Mas não o disse por gosto - talvez por piedade cruel para com este pobre ser moribundo.

Falaram das coisas que fizeram nos últimos vinte e cinco anos. De outros amores, de idas à praia, do facto de Martim se recusar em tomar banho. Até que, no meio da conversa, Martim se reconciliou com a expressão oral. Da sua boca saíram todas as palavras que há muito tempo queria que Jennifer ouvisse. Disse-lhe como viveu demasiado tempo no futuro, esquecendo o presente. Disse-lhe que por pensar que esse futuro estava já determinado pelas leis do universo, não insistiu mais no amor que os unia. Disse-lhe que viajava ao futuro para tentar esquecer o passado. Disse-lhe que sempre viveu em dois tempos e nenhum deles foi o presente. E que mesmo o seu passado fora um pretérito imperfeito.

Jennifer ouviu com atenção, e com o coração batendo depressa, sorriu-lhe. Então, um enorme estrondo se ouviu na rua, e um burburinho entre os transeuntes. Mas Martim McMosca reconhecia aquele barulho.
'É o DeLorean', disse a Jennifer. E precipitou-se para o exterior do café.
Do DeLorean estacionado no meio da estrada, Martim McMosca viu sair um jovem Martim. O jovem Martim dirigiu-se de imediato ao mais velho.
'Venho dar-te uma mensagem, velho Martim McMosca', disse o jovem.
'O que é?'
'Deves sair da casa onde vives, senão dentro de seis meses vais lá morrer incinerado num incêndio.'
Ao ouvir isto, Jennifer aproximou-se do mais velho Martim, enroscando o seu braço no dele.
'Não,' respondeu o mais velho Martim. 'Chega-me de viver dependente do que acontece no passado e no futuro. Desta vez, vou viver no presente. Tudo o que preciso, está aqui. Este cocó de pássaro no passeio, o cheiro a frango assado ali da churrasqueira, o hálito a morto do meu senhorio.'
E, ajoelhando-se, disse:
'Jennifer Patrícia, casas comigo?'
O Martim McMosca mais novo achou tudo aquilo deveras patético. Jennifer sentiu um arrepio na espinha, provocado por um pingo de água que caíra duma varanda. Então respondeu ao pedido de Martim.
'Martim', disse-lhe. 'Casarei, mas com duas condições: Primeira - tomas banho todos os dias. Segunda - fazes aquilo que o teu Eu mais novo disse e mudas de casa. Morreres incinerado e saberes que isso vai acontecer não me parece muito inteligente.'
Na cara do mais velho Martim McMosca desenhou-se um enorme sorriso, e levantou-se segurando as mãos de Jennifer. O mais novo Martim McMosca, que assistira àquele nojento momento de piroseira, vomitou na calçada a caldeirada de lulas do almoço.

Ao casamento de Martim e Jennifer McMosca veio gente de todo o lado, tempo histórico e verbal, como perturbadoras memórias vestidas em roupa da Fabio Lucci. Martim já não cheirava a bedum e chulé. Já Jennifer, continuava asseadinha.
À porta da igreja, um veículo espera pelo mais novo Martim McMosca. O jovem Martim despede-se dos noivos com um enorme abraço e, dirigindo-se ao DeLorean, recorda o que aprendeu nesta viagem que fez no tempo: um gajo deve, sempre que possa, lavar os pés.

Thursday 14 October 2010

Melomanias #38

Autoclismo Ribeiro

Filho de Sanita Ribeiro, professora de Educação Visual na Escola Básica Shôr Doutor Engenheiro Exmo. Monte de Merda, Autoclismo nasceu a 25 de Abril de 1974. Pelo facto de se ter dado uma revolução no dia em que completava dez anos, nunca perdoaria o país que o vira nascer. O roubo de protagonismo e a substituição do habitual "Parabéns a você" pela cantiga "Grândola Vila Morena" foram marcas da sua infância.

Como tal, aos treze anos decidiu enveredar pelo mundo do crime. Começou como carteirista, fazendo depois alguns assaltos à mão armada. Terminou na política. Numa acção de recrutamento do PTP (Partido Tachista Português), juntou-se à juventude partidária do mesmo e notabilizou-se no assalto ao erário público. Em 1992, foi convidado a pertencer ao governo de Verosímil Antunes, como ministro do Turismo. Segundo o secretário-geral do partido, Autoclismo Ribeiro possuía as habilitações necessárias para o cargo - o décimo-segundo ano completo de praia e um primo em Peniche.

A sua passagem no sector do Turismo foi reconhecida pelos analistas - entre os quais o professor Mamaçal - como uma das melhores da história do país. Investiu em viagens para os seus filhos a Angola, Moçambique e Serra Leoa; para os seus primos numa volta ao mundo em 365 dias e para os contribuintes numa volta ao bilhar grande.

Em 1997, após ser apanhado a conduzir sob o efeito de Claudisabel, agrediu um agente da autoridade com uma cana de bambu. O agente em causa viria a falecer setenta anos mais tarde, vítima de arterosclerose dupla com tendência a triplicar.

Já no ano 2000, Autoclismo viria a constatar finalmente estar na posse de uma pança que o impedia de visionar a pila. A nostalgia e saudade geradas por estes acontecimentos levaram-no ao vinho tinto e eventualmente às casas de putas. Numa rusga da Judite Policiária, em 2002, Autoclismo Ribeiro foi apanhado a conversar com um árbitro de futebol. Viria a falecer em 2006, após escorregar no tapete da casa de banho e bater com a nuca no bidé.

Wednesday 13 October 2010

Portugal Alcatifado



Mas assina primeiro pá.

Monday 11 October 2010

Manual de Grosseria e Maus Modos #4

O Guardanapo
por Lúcio Prepúcio























Para mais detalhes acerca da história do guardanapo, aconselha-se a leitura do volume Mas Quem Caralho é Que Inventou o Guardanapo, Foda-se?, de Barbítrio Ramelas e publicado pela Zarabatana Edições.


O que é?

As ocasiões em que tem de conviver com a espécie de hominídeos da qual faz parte mostram-se particularmente desgastantes. Quando enfrenta um ser que hesita em tomar banho, limpar as unhas ou a cera dos ouvidos, deve estar preparado. Mas claro, nada isto tem que ver com o assunto do guardanapo e já me vejo pois a divagar.


O que é? (Agora a sério).

O guardanapo trata-se de um objecto a que deve dedicar particular atenção nas ocasiões sociais. Convém sempre recordar que, na ausência do papel higiénico lá em casa, o guardanapo mostra-se quase sempre como a segunda alternativa mais viável. Justifica-se pois falar do guardanapo como o Paulo Bento dos papéis para limpar o cu - não é bem o que se quer, mas desenrasca.


Como é que uma pessoa lida com isto do guardanapo, do princípio ao fim?

Ora cá vai. Primeiro que nada, deve sentar-se à mesa.

Ao sentar-se, coloque o guardanapo no colo. O guardanapo no colo mostra-se útil especialmente quando você tem pedaços de comida na boca que lhe apetece cuspir e não sabe para onde o fazer. Pois bem, encha o pulmão de ar e faça uma bonita figura.

Como segunda opção, deixe o guardanapo no prato. Quando o empregado chegar com a sopa, diga-lhe que pertence à religião do Guardanapismo Contemplativo. Com o empregado já furioso, sugira que ele lhe coloque a sopa num copo de imperial. Se ele achar esquisito, diga-lhe que esteve em Paris e que por lá é o que está a dar.

Se nenhuma das duas primeiras opções lhe agradar especialmente, faça uma bola com o guardanapo e atire para a sua sopa. Depois chame o gerente e diga-lhe que foi aquele empregado mal encarado do costume. Não tem qualquer espécie de utilidade, mas certamente ajuda à intriga quando as coisas estão a ficar aborrecidas.


Sentei-me e já comecei a enfardar as entradas. E agora?

Acalme-se. Respire fundo e, com as chaves de casa, aproveite para coçar a virilha esquerda. Deve ter sempre atenção ao guardanapo antes de se sentar. Quando chega a uma ocasião social é importante que localize de imediato e o guarde. Se quiser limpar a boca antes, faça-o à toalha de mesa ou à camisola de um amigo, principalmente se o amigo for daqueles betos que vestem camisolas com o boneco do crocodilo.


Como dobrar?

Têm surgido ao longo dos anos diversas discussões académicas acerca de como dobrar o guardanapo. Farfalário Cegonha, por exemplo, sugeria a aplicação da arte do origami ao guardanapo, enquanto Godofredo Arquimerdas defendia a transformação do guardanapo em aviãozinho de papel. No caso de se tratar daqueles guardanapos com a inscrição "Bom Apetite" que se encontram nas pastelarias, Parragão Sobroca aconselha a serem guardados para mais tarde, numa ocasião em que faltem mortalhas para enrolar ganza.


Saturday 9 October 2010

Melomanias #37

Espectaculares Aldeias Inexistentes Cujo Nome é Homófono de Metrópole #2

Nove-A-Iorque.

Espectaculares Aldeias Inexistentes Cujo Nome é Homófono de Metrópole #1

Parige.

Fei Quem paire

Em Roma, sê romeno (deixa os gajos furiosos)

Penso eu de que

Se Manuel Alegre bate a bota, a esposa vira viúva Alegre?

Monarchy in the Iu Quei

O Buiça só quis ver se aquilo do sangue azul sempre era verdade.

Maravilhoso

Música no coração é ter um iPod no pacemaker.

Eles comem tudo III

Os vampiros enfeitam a casa com vasos sanguíneos.

Grand Vitesse

Se o TGV morrer, passa a comboio fantasma?

Gipsy Kings

Os ciganos expulsos pelo Sarkozy já foram à Roménia chamar os primos - prepara-se uma invasão da França por carrinhas Ford Transit.

Ora São

Trata-se Deus por Senhor que ele não quer cá confianças.

Casa Pia

Agora quando uma velhota vê a juventude a portar-se mal, em vez de invocar Salazar, diz: "Isto fazia cá falta era um Carlos Cruz."

Frozen... food

Se a Madonna deixa de trabalhar, vira Madonna de casa?

Cartas de Amor

O Gambit dos X-Men joga à batota quente.

Kispo

O Papa condecora Cavaco e esquece-se do Bibi. O mundo está repleto de injustiças.

Xis-Méne

Sei de um ciclope com olho para o negócio.

Eles comem tudo II

Pessoas de sangue frio - os vampiros adoram, mas só no verão.

Let's Hunt and Kill...

O Justin Bieber é um Michael Bolton mas sem pêlos púbicos.

Dilema

Se o Neo tomasse o comprimido azul andava os dois filmes seguintes com um alto nas calças.

Ora tomem

Queriam pregar-me uma partida mas eu preguei-lhes uma chegada.

AA

Os alcoólicos põem a cerveja no topo do bolo.

Ca Ró Sell

A vida dá muitas voltas, uma pessoa enjoa.

Santíssima Trindade e Tobago

Os católicos bebem sumo-pontífice.

Espantalho

Contratei um gang de corvos para assassinar o Zé Milho.

Salta Como Uma Truta

As prostitutas lavam-se com água putável.

Copos

Veni, vidi, vinho!

Imortal my rabo

A Esperança é a última a morrer. Já te fodeste, Connor MacLeod.

Square Rute

O cabelo dos matemáticos tem raiz quadrada.

Messias com Surro

O Jesus caminhava sobre as águas porque não gostava muito de tomar banho.

Puxa

Lili Caneças faz cover de Black Eyed Peas - "I Gotta Peeling"

Gangsta

Sei de um rapper alcoólico chamado MC Róze.

Eles comem tudo

Se não se acaba com os chumbos nas escolas, não vejo os vampiros da Lua Vermelha a acabar o secundário.

Ortografia

Fã número um de pessoas que escrevem "aconte-se."

Será?

Um bolo semi-frio, não está também semi-quente?

Fantástico Fóre II

O Senhor Fantástico tem patilhas elásticas.

Não merda

O país dos hipocondríacos é a Arábia Saúdita.

Oi!

Quem sofre de ejaculação precoce devia fazer amor na sala de espera.

Olympique

Os atletas bem educados praticam o salto em cumprimento.

Olhá Onda

O Tocha Humana surfa em ondas de calor.

Bate Como Uma Batuta

Compro sempre sumos de prosti tutti.

O Meu Coração Palputa

As casas de alterne têm um relações-púbicas.

Doc Gentil Martins

Conheço uns gémeos siameses que andam sempre pegados.

Veronício Pirata

Nascera no ano de 1968, debaixo da saia de uma velha que cheirava distintamente a mijo. Desde cedo revelou dotes que levariam muitas pessoas a classificá-lo de atrasado mental, embora pudesse até ser classificado de adiantado mental, uma vez que os seus problemas psicológicos se mostravam algo avançados. Como prova disso, aos 10 anos ainda colava macacos na traseira dos sofás lá de casa e dava joelhadas na sua própria testa.

Teve uma relação algo tumultuosa com o seu primo Farinha, que era estrábico, porque nunca sabia se ele falava consigo ou com a pessoa do lado. Em 1980 completou o sexto ano de escolaridade mas chumbou a Ciências Naturais - ainda hoje possui a certeza de que as células presentes no sémen se chamam "esperma de zóide." Para seu grande azar, perdeu uma perna no Ultramar três minutos após a guerra acabar. Perdeu ainda um olho em Alcácer-Quibir e a virgindade em Alcácer do Sal, com um cão de fila.

Aos 14 anos pensou em optar por uma carreira no contorcionismo, ao observar que os praticantes da modalidade tinham a invejável capacidade de lamber a pila. Rapidamente desistiu, com medo de partir a espinha. Ingressou num curso para homens do lixo em 1992 e em 1996 já havia sido promovido a técnico de higiene urbana. Teve três filhos e um hamster, que morreu na última quinta-feira com uma overdose de queijo da ilha. Actualmente tem como passatempo corridas ao pé-coxinho. Os filhos descrevem-no como um bom homem, sobretudo quando está a dormir.